Afrodisiacos naturais

Os homens e a crise da meia idade

18-02-2013 11:22

 

A chegada à ternura dos 40 tem destas coisas: um dia acorda e decide que quer comprar um Ferrari. Antes de adormecer, fantasia em arranjar uma namorada com idade para ser sua filha. O problema é que não tem dinheiro para o carro e as miúdas de 20 anos não olham para si com segundas intenções, por muito que se esforce e tente fazer acrobacias sempre que passa por alguma. Já viveu alguma destas situações? Parabéns, chegou à crise de meia-idade.
 
Depois dos 40 anos, o homem despe a capa de super-homem e percebe que, afinal, não é imortal. "Faz-se um balanço de tudo o que já se viveu e conseguiu, do tempo que ainda resta e dos objectivos que estão por atingir", explica o psicólogo e terapeuta familiar Manuel Peixoto. Um exercício que, levado ao limite, pode trazer consequências profissionais, sociais e emocionais - desde mudanças de emprego precipitadas a divórcios.
 
Há casos em que esta "consciência profunda da vida" - como prefere chamar-lhe Manuel Peixoto - acontece aos 35. Outros homens experimentam-na aos 55 anos. "O envelhecimento é um processo normal, mas que torna as pessoas mais vulneráveis. O aumento do índice de depressões nos homens entre os 35 e os 55 anos está, normalmente, associado a sentimentos de juventude perdida e à ideia de que já não se é atraente", acredita o sexólogo Fernando Mesquita.  
 
A maioria dos homens "sente que as ambições que tinha na juventude não foram realizadas e que a idade actual já não lhes permitirá realizar algumas delas". Perante estes pensamentos, alguns ficam deprimidos. Outros adoptam comportamentos diferentes do habitual. "Começam a ter mais cuidado com o aspecto físico, investem grande parte das economias em gastos supérfluos ou assumem comportamentos estereotipados da juventude", exemplifica o sexólogo. E o mito do interesse por mulheres mais novas tem a sua razão de ser. "Acontece uma reorientação da sexualidade para pessoas mais jovens, como forma de negação de que já não se tem tanta energia e não se é tão atraente como quando se é mais jovem", admite o sexólogo.
 
O rol de angústias já é grande, mas não fica por aqui. Esta é, também, a idade em que a saúde se começa a deteriorar. Fernando Mesquita explica que, embora os homens não experimentem as alterações físicas de forma tão visível como as mulheres que entram na menopausa, passam por um processo de declínio dos níveis de testosterona: "O que conduz a uma diminuição do desejo sexual, redução da força muscular, aumento da gordura corporal, tornando ainda os homens mais susceptíveis a alterações de humor." Do ponto de vista físico, envelhecer traz outras mudanças: a excitação torna-se mais lenta, a erecção mais progressiva, o período de latência entre duas relações é mais prolongado. 
 
Por estas e por outras, a entrada na ternura dos 40 tem muito pouco de ternurento para a maior parte dos homens. "Os níveis de stress são grandes, há perda de interesse pela companheira, podem surgir depressões, há que lidar com os preconceitos culturais ligados ao envelhecimento", acrescenta o sexólogo. Por outro lado, entre os 40 e os 50 anos, a pressão é grande. 
 
Os compromissos profissionais são maiores, as responsabilidades familiares exigentes. Muitas vezes, recorda Manuel Peixoto, "a quantidade de tarefas leva a um colapso". Também nesta fase os filhos já estão crescidos e saem de casa "o que conduz a um vazio". Ver envelhecer os próprios pais e ter de lhes prestar cuidados é outro factor que mexe com o homem, "ao perceber, de forma crua, que o ser humano é finito".  Não é igual para todos Apesar de tudo, a crise da meia-idade é, sobretudo, existencial, porque o homem se apercebe de que tem menos tempo para viver. Mas a forma como atravessa este período depende de cada um. Quanto mais insatisfeito estiver com aquilo que tem, mais tentado se sentirá a mudar tudo. Manuel Peixoto dá um exemplo: "Os homens que mantiveram relações afectivas mais turbulentas são mais vulneráveis." Muitos chegam à conclusão de que querem criar rupturas definitivas "com o argumento de que querem ser felizes, viver sem sobressaltos, assentar".
 
Necessariamente infiel? A crise de meia-idade não conduz, necessariamente, à infidelidade. "Quando acontece - e é frequente - é por que algo está mal na vida do casal. Não é o homem que arranja uma amante, é o casal que arranja uma amante", defende Manuel Peixoto. E mesmo o interesse súbito por mulheres mais novas tem o que se lhe diga: "A maioria procura jovens não pelo sexo, mas para mostrar que conseguem tê- -las", defende Margarida Pedroso Lima, da Faculdade de Psicologia de Coimbra E há que desmistificar: "A vida sexual é mais activa em casais em que a mulher é mais velha, porque a sexualidade feminina não declina, apesar das alterações fisiológicas." Ainda tem dúvidas? "Depois de passarem pela menopausa, muitas mulheres sentem-se mais sensuais e têm mais desejo", explica a especialista. 
 
O melhor é não se precipitar. "Se é capaz de apaixonar-se por outras pessoas e outros projectos que não os que tem, então também é capaz de tentar resolver o que está errado", defende Manuel Peixoto. Fugir à realidade e aos problemas não é boa ideia, muito menos "procurar soluções fora do contexto do casal e fora de si próprio". Esperar que passe, por muito simplista que possa parecer, é uma solução. Embora muitos homens procurem a ajuda de anti-depressivos, esta é uma solução errada. "É um erro. Os medicamentos não resolvem nada, porque os problemas continuam a existir, é só uma anestesia", garante o psicólogo. Reflectir sobre os problemas é fundamental. Se não der resultado, o processo pode ser conduzido, em casal ou individualmente, por um especialista - um psicólogo ou um sexólogo. 
 
Para as questões mais biológicas, pode-se consultar um endocrinologista, um andrologista, um urologista ou, simplesmente, o médico de família. Mas não faça dramas. Todos gostamos de organizar a vida em ciclos. "Só que as fases são meramente circunstanciais e fruto de uma construção social", defende Magarida Pedroso Lima. Encare a realidade: o ser humano é finito. "Não podemos querer viver como um ser estático". Todos os ciclos da vida têm vantagens e desvantagens. "Não significa, necessariamente, que se esteja a declinar. No início do século XIX, a esperança média de vida era de 40 e poucos anos. Hoje, nessa idade, está-se a meio da vida", lembra a psicóloga.
 
Fernando Mesquita recomenda, acima de tudo, que se opte por um estilo de vida mais saudável. "E tem de se ter noção de que a idade afecta as erecções - o homem não pode esperar uma erecção tão forte aos 40 como tinha aos 18." Recorrer a "técnicas de auto-afirmação cuidando da aparência física" é outro truque. Mas há mais: combater as "ideias pré-concebidas em relação ao envelhecimento", reduzir a ingestão de bebidas alcoólicas (uma bebida dá-lhe coragem, outra solta as inibições, mas a terceira pode causar dificuldades de erecção), evitar o tabaco (que costuma andar de mãos dadas com a disfunção eréctil) e acabar com o stress. 
 
Será que estou mesmo em crise? "Um paciente disse-me, na primeira consulta, que tinha vindo ao consultório porque lhe disseram que, devido à idade, poderia estar a entrar na andropausa. Quando lhe perguntei o que sentia, disse-me que não se apercebia de nada de diferente."
 
Margarida Pedroso Lima pertence ao grupo de investigadores que acredita que a crise de meia-idade não passa de um mito. O conceito apareceu depois da década de 1970, quando os hippies americanos começaram a envelhecer e entraram em crise. Com a idade a avançar, tiveram de se preocupar com valores que sempre negaram, como a importância do trabalho e do dinheiro.
 
"Alguns teóricos procuraram entender o fenómeno, mas não houve nem há resultados empíricos que demonstrem que a crise da meia-idade seja normativa", defende a especialista. Através do cinema, o conceito acabou por se espalhar e chegou à Europa. A psicóloga defende que o envelhecimento é um processo contínuo. Só que a pressão cultural é grande e "muitos homens acham que têm necessariamente de passar por uma crise a meio da vida".
fonte:ionline